A Sky foi criada com o rótulo "zero doping". Vários colaboradores foram despedidos por terem estado no passado associados a práticas dopantes. E aconteceu 2017. Ano em que vários episódios antigos passados dentro da Sky e em grande parte relacionados com Wiggins criaram muita confusão. Com a Sky a ter muitas dificuldades em explicar determinados injectáveis, computadores e registos desaparecidos...
Froome manteve uma prudente distância em relação a toda esta embrulhada, não sendo particularmente solidário nem crítico. Ele e Wiggins nunca tinham sido amigos. Até que rebenta a história do salbutamol, justamente poucos dias depois de Froome anunciar que iria tentar em 2018 aquilo que desde Pantani, o dopado Pantani, em 1998, ninguém voltara a conseguir: a dupla Giro-Tour, as duas provas mais difíceis do calendário velocipédico.
Devido ao Campeonato do Mundo de Futebol a distância entre Giro e Tour aumentara uma semana, o que em recuperação de um ciclista é muito. Era portanto uma oportunidade única para Froome entrar para a História, ele, ele mais do que a Sky, até porque ano após ano os corredores que a Sky mandava à Volta a Itália falhavam, um atrás do outro. Froome ia pôr fim à maldição da Sky no Tour e fazer aquilo que antes só Coppi, Anquetil, Merckx, Hinault, Stephen Roche e Pantani tinham feito, acedendo assim ao Olimpo do Ciclismo. Mais importante: da sua geração Contador tinha tentado e falhara, Quintana tinha tentado e falhara. E o salbutamol?
Se a Sky pertencesse ao Mouvement Pour un Cyclisme Crédible, que agrupa para aí metade das equipas WorldTour, Froome teria sido automaticamente suspenso de competir. Mas a Sky nunca quis pertencer a um grupo tal, onde seria "apenas-mais-uma". Portanto Froome competiu - teimosia dele ou da Sky? - foi ao Giro e, melhorando a sua prestação à medida que a corrida ia decorrendo, acabou por ganhar com duas vitórias de etapa brilhantes, incluindo um ataque de longe, fulgurante, algo nunca visto em Froome! Era Froome a correr para a história, mesmo! Não a Sky, Froome! Com esta vitória Froome tinha na sua mão as vitórias das três grandes voltas, em sequência - Tour 2017, Vuelta 2017, Giro 2018! Uma equipa estratosférica de advogados conseguiu entretanto dar a volta à UCI e Froome foi ilibado dias antes do Tour - com um argumentário que de tão espesso era "incomentável". E começou o Tour.
Froome terminou terceiro no Tour, atrás - surpresa! - de Dumoulin e - mais surpresa ainda! - de Geraint Thomas, seu colega de equipa e amigo, apenas um ano mais novo e que corre com ele desde os tempos daquela entrevista ao Cycling Weekly, em 2008. Thomas ganhou o Tour aos 32 anos, a mesma idade que tinha Wiggins em 2012. Como Wiggins Thomas também começara na pista, mas nem era uma super-estrela nem tinha feito antes um top-dez no Tour, só "ameaçado" em 2015. E ja andava na estrada há bastantes anos. Thomas ganhou porque foi superior a Froome a rolar - perdeu menos tempo que todos nas primeiras etapas - a subir, nunca parecendo gastar tudo - e no contra-relógio, que poderia ter ganho na penúltima etapa não tivesse levantado o pé nos últimos kms para dar uma etapa ao amigo Froome, que não aconteceu por segundo e meio. Isto foi mais uma vitória da Sky mas também de Thomas, ainda por cima um tipo bem mais simpático do que o macambúzio Froome.
Já quase nos esquecemos que a Vuelta de 2017 devia ter sido retirada a Froome e atribuida a Nibali. Que Froome não devia ter participado no Tour, ao ser castigado pelos seus níveis de salbutamol, excessivos porque sim, como antes tinha sido por exemplo castigado Diego Ulissi.
Não sei se Thomas irá à Vuelta. Meu Deus, e se ele a ganha?
2019 vai ser um ano interessante para o ciclismo, todos os anos são. Há dezenas de provas, pequenas e grandes, onde o drama, a dedicação e o sacrifício de muitos se perde em derrotas inglórias ou frutifica em vitórias brilhantes, daquelas que fazem brilhar os olhos a nós, os adeptos. O Tour não vai, mais uma vez, ser uma destas provas. O vencedor vai ser um de dois: Christopher Froome ou Geraint Thomas. Como trabalhará a Sky esta dicotomia? A ver vamos.
A não ser que o Tom Dumoulin...
P.S.: esclareço que acredito que Froome corre limpo. Só não correu naquele dia de 2017 onde...
P.S.: esclareço que acredito que Froome corre limpo. Só não correu naquele dia de 2017 onde...