segunda-feira, 30 de maio de 2016

Philippe Thys


Philippe Thys descending the Tourmalet in the 1913 Tour de France


Philippe Thys foi o primeiro corredor a ter uma carreira "moderna". Nascido em Anderlecht, bairro de Bruxelas, em 1889, foi campeão belga de ciclo-cross em 1910, aos 21 anos. No ano a seguir venceu o Circuit Peugeot, uma espécie de Tour de l'Avenir daqueles tempos. Em 1912 correu o seu primeiro Tour de France e foi sexto. Corria pela equipa Peugeot onde o melhor era outro belga, Marcel Buysse, o primeiro de uma família de ciclistas. No ano  a seguir a história do Tour de France far-se-ia com dois belgas e um francês. A primeira história, mítica, tem a ver com Eugene Christophe, que, à frente da corrida, quebrou a forquilha da bicicleta ao descer o Tourmalet. Pelas regras de então teve que procurar um ferreiro e ele próprio, na forja, reparar a bicicleta. A partir daqui o francês Christophe afundou-se na classificação. Buysse passou para primeiro e, com Thys, revelou ser o melhor trepador: ganhou seis etapas no total, num total de quinze. O tempo perdido em - também - vários acidentes de bicicleta ofereceram a vitória aquele que parecia ser o segundo homem da equipa, Philippe Thys. Thys ainda não tinha 24 anos. Como seria 1914?
Em 1914 Thys já era um elemento importante do pelotão: participou em algumas corridas de um dia, mas o seu grande feito foi ter vencido o Tour sendo primeiro da primeira à última etapa. A maior ameaça desta vez foi o campeão francês Henri Pelissier, um apelido que se repetiria em outros ciclistas também. Thys trepou com os melhores e foi regular durante todas as etapas. Pelissier era melhor sprinter mas o Tour era agora uma competição por tempos, ergo... Thys nestas duas vitórias marcou o padrão de quase todas as vitórias daqui para a frente - subir com os melhores e nunca perder tempo nas restantes etapas. A única coisa que faltava para equiparar estas vitórias às actuais era ainda não existirem contra-relógios. E... aconteceu a Grande Gerra.
Philippe Thys conseguiu sobreviver à Grande Guerra, ao contrário de muitos dos seus concorrentes. Esteve na aviação francesa mas nos intervalos correu alguma coisa e, assim, ganhou os Paris-Tours de 17 e a Volta à Lombardia no mesmo ano. Sendo um corredor do Tour por excelência, também aqui marcou um padrão: ficava bem a um ganhador do Tour vencer também algumas clássicas. Naqueles tempos o Paris-Tours era muito importante, e a Volta à Lombardia foi ganha à frente de... Pelissier, o rival de 14!
E chegámos a 1919. Thys não estaria bem? Fez segundo no Paris-Roubaix, a mais importante corrida de um dia de então, atrás do rival Henri Pelissier... e abandonou o Tour no primeiro dia: um colega de equipa foi penalizado em meia hora por dar-lhe uma garrafa de água: então não era permitido!
Em 1920 Philippe Thys voltou à sua tática vencedora: subir com os melhores e não perder tempo nas outras etapas. O melhor trepador, e que tinha ganho o Tour de 1919, outro belga chamado Firmin Lambot, era pior rolador e, portanto, acabou terceiro a uma hora de distância. Os primeiros sete na classificação final eram belgas, A Bélgica tinha um je ne sais pas quoi para o ciclismo... Pélissier abandonara cedo com duas etapas ganhas...
Em 21 Philippe Thys não fez nada de especial: abandonou cedo no Tour, foi marcando presença noutras corridas. No fim do ano celebrou-se em Paris uma prova em circuito de estrada atrás de um motociclista: o "Criterium des As" - uma prova hoje lendária que durou até 1990 e que foi ganha por todos os campeões e onde Acácio da Silva foi terceiro em 86! O primeiro vencedor? Philippe Thys. Em 22 Thys chegou ao Tour disposto a ganhar a quarta. Mas as avarias mecânicas também aconteciam a Thys e na etapa dos Pirenéus, a 6ª, Thys perdeu mais de três horas. Vingou-se vencendo as três etapas seguintes, mas era tarde demais. Segunda vitória do trepador Firmin Lambot e a sétima vitória belga consecutiva! Em 1923 Henri Pélissier finalmente conseguia ganhar e assim quebrar a hegemonia belga. Philippe Thys começou mas não acabou, não se fazendo notar: com 34 anos, seria o fim? Thys portou-se melhor no Tour de 1924, mostrou-se, ganhou duas etapas, mas acabou 11º. Era a vez do primeiro italiano ganhar o Tour, Bottecchia. Havia outro Buysse na estrada, o Lucien, e era terceiro, a primeira grande figura luxemburguesa do ciclismo, Frantz, era segundo. Todos bem mais novos. Nenhum deles conseguiria repetir as vitórias de Thys: só em 1955 voltaria a acontecer um triplo vencedor do Tour de France.  Thys ainda participou no Tour de 1925, mas abandonou a meio ser ter sido top 10 em nenhuma etapa. Quando Bobet ganhou o seu terceiro Tour em 55, Thys esteve presente para o cumprimentar: o seu recorde durara 35 anos! O inventor do Tour, Henri Desgranges, não lhe poupou elogios e perguntava-se: se não tivesse acontecido a Grande Guerra, quantos Tours teria vencido Philippe Thys? 
Philippe Thys foi o primeiro grande corredor de ciclismo onde as suas vitórias no Tour de France constituiram a parte mais importante de um brilhante palmarés. E ainda hoje é o segundo belga que mais Grandes Voltas venceu, ultrapassado só por... Merckx!
Bill McGann do site "BikeRaceInfo" escreve apenas: "I think Belgian racer Philippe Thys is the greatest Tour de France rider in history!"