quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

François Faber.

Quando se fala de ciclismo fala-se de França, da Bélgica, de Itália. Mas, logo ali ao lado, um pequeno país como o Luxemburgo, com o tamanho e a população do distrito de Aveiro, já teve quatro vencedores do Tour de France. O primeiro aconteceu logo em 1909 e dava pelo nome de François Faber.
O ciclismo, então como hoje, era um desporto popular onde os campeões habitualmente surgiam das  camadas menos favorecidas da população. François Faber trabalhava nas docas quando comprou a sua primeira bicicleta e, aos 19 anos, decidiu experimentar a competicão. Filho de um luxemburguês e de uma francesa, manteve a cidadania do pai embora sempre residisse em França. É possível que usasse esse subterfúgio para fugir ao serviço militar. Mas não o terá feito por cobardia pois, em 1914, alistou-se na Legião Estrangeira e morreu na frente da Primeira Grande Guerra, um ano depois.

Os corredores grandes - François Faber era alto para a época, e forte, ou pesado - têm um handicap óbvio no ciclismo - as subidas. Naqueles tempos não se subia tanto assim e François Faber até não subia mal. Também, oito décadas depois, Indurain não era pequenino e trepava o que era preciso. Faber começou a correr em 1906, portanto, como independente. Em 1907 tem um contrato com uma equipa e já brilha aqui e ali no Tour. Tem 20 anos. Em 1908 é segundo e Petit-Breton faz a sua famosa profecia "Je suis convaincu que cet homme-là sera imbattable l'an prochain." Faber termina o ano a ganhar a Volta à Lombardia, a sua primeira clássica.
Em 1909 ganha o Paris-Bruxelles e destroça a concorrência no Tour ganhando cinco etapas seguidas - feito ainda não igualado - e terminando primeiro. L'Auto publicaria  "Le géant de la route : François Faber, ses débuts, sa carrière, ses Tours de France, comment il s'entraîne..."
Faber é então conhecido como "le géant de Colombes", onde vive. Um meio-irmão mais velho, Ernest Paul, também é ciclista e é conhecido como "Ernest Faber" no pelotão embora tenha pai diferente e, portanto, seja francês e não luxemburguês. François Faber é um herói, um homem famoso. Que porém, na época de defeso, no inverno 1909-10, volta a trabalhar nas docas.


 
A época ciclista de 1909 tinha terminado com uma vitória de Faber no Paris-Tour, muito discutida: o vencedor "real", a nova coqueluche francesa Oscar Lapize, tinha-se enganado no percurso, coisa naqueles tempos muito frequente. Em 1910 Lapize ganha Paris-Roubaix e Paris-Bruxelles. Faber não dá sinal de vida. No Tour correm na mesma equipa mas esta divide as suas lealdades e acontece muita faca e alguidar durante as etapas. Uma queda de Faber provocada por um cão - lembram-se de Agostinho? - decide a corrida a favor de Lapize. Faber é segundo. Faber vinga-se ganhando sem espinhas o seu segundo Paris-Tours, onde Lapize... não comparece.
Faber nunca se recompôs por completo desse Tour perdido por tão pouco. Em 1911 ganhou um Bordéus-Paris e em 1913 um Paris-Roubaix. O Tour era agora um pouco mais acidentado - subia-se mais - e Faber contentava-se em ganhar etapas. Em 1913 é quinto, nono em 1914. Em 1913 casa-se e visita pela única vez na sua vida o seu país, o Luxemburgo, a convite do Grão-Duque.
Quando da sua morte nas trincheiras a sua esposa tinha dado à luz, dias antes, uma filha.

No Luxemburgo disputa-se em sua honra uma prova modesta, de um dia, o GP Francois Faber. Nos anos oitenta venceu-a um luso-luxemburguês chamado Francis da Silva. É o irmão mais velho de Acácio da Silva.

Sem comentários:

Enviar um comentário